A “task-force” da luta contra o Covid-19 em Portugal garantiu hoje que “não serão desperdiçadas” as 500 mil vacinas contra a Covid-19 que expiram em Outubro, estando programada a doação a outros países, tal como já aconteceu com mais de 200 mil doses.
“Não serão desperdiçadas vacinas nenhumas”, garantiu hoje o vice-almirante Gouveia e Melo à margem da visita ao Centro de Vacinação de Loures. Em causa está a proximidade do fim da validade de cerca de 500 mil vacinas da Astrazeneca que o responsável da “task-force” explicou que vão seguir em breve para Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e para Timor-Leste. “Estamos a fazer a doação para que as vacinas sejam úteis a outros povos”, tais como Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Timor-Leste.
Portugal celebrou um protocolo que já permitiu o envio de “mais de 200 mil vacinas”, disse Gouveia de Melo, defendendo que deveria haver uma “concertação a nível internacional”, para que os países mais ricos pudessem ajudar os mais necessitados.
“Temos de decidir – e não apenas no nosso país, mas nos países mais avançados e com mais capacidade económica – se pudemos ajudar os outros países com menos capacidade económica, porque o mundo bem precisa de solidariedade”, defendeu.
Esta doação faz-nos lembrar uma outra história. A Câmara Municipal do Porto (Portugal) aprovou no dia 25 de Setembro de 2007 a oferta à sua congénere da Beira, Moçambique, de um camião de recolha de lixo com 25 anos de actividade, 150 casacos de fatos de trabalho, três computadores, livros e equipamento escolar.
Na altura escrevemos que oferecer um camião com 25 anos de actividade fazia lembrar a oferta de peixe podre, fuba podre e porrada a quem refilasse. Mesmo assim, admitimos que haveria engano na idade do veículo que o então Presidente da Câmara Municipal do Porto (hoje líder do PSD), Rui Rio, resolveu dar à Beira, ainda por cima no âmbito do protocolo de geminação entre as cidades do Porto e da Beira, estabelecido em 1989, e na bolsa de cooperação aprovada em 2005 para a “promoção de iniciativas específicas na área da ajuda pública ao desenvolvimento e da Lusofonia”.
Engano qual quê! A própria autarquia justificou a dispensa do camião, um Mercedes 1613, com o facto de “não possuir valor comercial”, apresentar um “estado de conservação que não confere a sua utilização na recolha de lixo pela cidade” e de o desempenho do motor ser “desajustado para vencer as solicitações que o tipo de recolha requer”.
Ou seja, era mesmo verdade. Lixo por lixo, que se lixassem os moçambicanos. Não servia para o Porto, pouco mais é que um amontoado de lixo e, por isso, toca a enviá-lo com o rótulo de cooperação e solidariedade para os nossos irmãos do Índico.
“Não está mal, caro presidente da Câmara Municipal do Porto. O seu homólogo da Beira, que certamente tem bem mais do que fazer, vai aceitar a oferta e mandar o camião para o sítio certo: o lixo”, escrevemos na altura, sugerindo que as autoridades moçambicanas colocassem o camião numa praça central da cidade da Beira com um cartaz a dizer: Homenagem à cooperação com a Câmara do Porto.
Entretanto, dois meses depois, o presidente do Conselho Municipal da Beira, Moçambique, Daviz Simango (Renamo), recusou o camião de recolha de lixo oferecido pela Câmara do Porto, por ser “antigo”.